Nossa dor não sai no jornal
Como pode a gente ter certeza de algo e, com o passar das primaveras, com as pequenas e grandes mudanças da vida, tudo torna-se diferente.
Lembro que prometi a mim mesma que não deixaria os cabelos brancos afetarem minha percepção de mim mesma, que a rotina não me faria distanciar dos seus abraços e que o hábito de estar perto não me deixaria menos saudosa. Vãs! Sem fundamento, hoje sei; naquela época eram a melodia que me conectava à vida, eram as promessas que me deixavam em pé e faziam mais alegre meu sorriso.
Hoje entristece-me saber que fui tão inocente.
Não contava com as escolhas que cada um faz. E, claro, as consequências que as acompanham... minhas, suas, nossas! Independente, é a nossa vida que sofre os danos que trazemos à nossa realidade.
Veja bem, não romantizo o relacionamento, mas, pensando bem, que mal teria? Sorrir porque se está realmente feliz, cantar porque se está com o peito cheio de música e amar porque se está com o coração cheio de ternura.
Eu sei, seu sei...isso acontece: sorrimos, cantamos e... amamos. Mas tudo de forma vazia, sem verdade. Não imaginava que seria normal isso.
Se é normal viver de forma não irracional e mentirosa, porque isso tudo não é exposto, como a felicidade o é? Já notou que quando alguém mostra-se triste a primeira reação do mundo é o desespero? Estou falando de tristeza e não doença, patologia, infelicidade crônica... digo, momentos tristes, apenas. Por que não podemos sentir isso sem julgamentos e preocupações desconcertantes?
É normal dias ensolarados, com o céu azul de um tom sem igual... assim como dias totalmente nublados, cinzentos, sem nem ânimo de ter as horas a passar. E passam, e acontecem, e anoitece e, de repente, é outro dia. Simples assim!
Sem devaneios!
Não afeta-me a ideia de que esses dias melancólicos aconteçam, afinal, ‘faz parte do meu show’ (como cantou um dia Cazuza), faz parte do meu drama. O que me desconcerta é acostumarmos com a frequência sem sentido, com a incidência gratuita, por escolhas que por diversas vezes nem são minhas. E o pior, dias estes que sequer são notados.
Vejo que a dor da gente não sai no jornal, não a dor de verdade, ela não é atrativa ao público como o escândalo é. Mas o travesseiro sentiu por demais o peso na consciência disso tudo vir à tona somente à noite, onde as coisas só funcionam de forma pessoal e solitária.
Divida comigo! Já é algum movimento. A inércia, por lógica e definição, não nos leva a alugar algum. Divida comigo, assim o peso fica mais leve, e quem sabe a vida também!
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