Chegou a primavera

Era um dia comum. O sol saiu cedo, já tentando esquentar a cama pela fresta da janela. Ainda fazia um leve frio, por aqui, mesmo no inverno o calor se faz mais presente que em qualquer canto do país. Tentei sair da cama com os lençóis ainda bagunçados, notei que tinham seu cheirinho; e só!

Demorei a entender que era o dia após, o dia imediatamente após sua partida. Tão logo lembrei disso, joguei-me no travesseiro novamente, insistindo que seria um dia que não valeria a pena ser vivido, queria que passasse logo, queria que não tivesse ido, queria, na verdade, que nunca tivesse vindo.

E se eu nunca tivesse lhe conhecido? E se eu não tivesse permitido me apaixonar? E se eu tivesse insistido que não queria compromisso? São suposições tão distantes... conhece-me, impossível não cair em tamanha tentação. Mais piegas que eu? Não sei, não vi...

Volta-me aos pensamentos como foi sua partida. Desta vez, sento na cama e decido entre sair e iniciar minha rotina, ou esperar que aconteça algo somente pelo poder dos meus pedidos. Há de se fazer algo, não posso ficar inerte, à mercê, novamente, de suas vontades.

Pego a toalha, a pasta de dentes e sigo ao banheiro. Começar pela limpeza matinal, tirar as impressões de ontem, quaisquer que sejam não pertencem a este novo dia. Entro no chuveiro e apenas deixo a água cair e limpar-me até os mais fundos pensamentos. Ali mesmo choro, um choro que ninguém vê, que eu não quero assumir e que dói porque não quero chorá-lo. Não era para ser assim, é só o que penso.

Deixo até a última lágrima descer imperceptível. Termino meu banho e visto qualquer blusa que me deixa à vontade. Faço o café, de praxe. Mais forte do que de costume: hoje é questão de necessidade.

Na varanda, em frente ao jardim, estico o corpo na rede. Ali mesmo fico. Penso o que mais eu poderia ter feito ou dito para que mudasse de ideia, para lhe convencer de que sua partida não era uma solução viável para nós dois, afinal, nem você mesmo conseguia me dizer o motivo pelo qual estava indo embora.

Olho a tela do celular na esperança de ter alguma notificação de mensagem sua. Almejando que tenha repensado, que queira conversar – já que nem isso o fez. Nada, absolutamente. Vejo que ainda tenho como papel de parede uma foto nossa, imediatamente procuro uma aleatória, afinal, a vida é assim... os dias se fazem únicos, nem sempre com uma continuidade lógica. Substituo a foto com imenso pesar. Está se materializando a nossa separação, na verdade, nesse momento nem sinto que seja uma separação, ainda é um abandono.

Sem nem perceber as horas passam e a brisa fica mais gelada, a presença da lua reina, o dia acaba, mais rápido do que eu gostaria. Sem sua companhia, sem companhia alguma, permaneço no balançar da rede, embalando os meus mais tristes pensamentos. Acho que os demais serão assim... dias, digo. Sem nada a me oferecer, sem nada a aproveitar e lamentando sua inexplicável ida.

Por fim, um barulho tímido surge do celular. Imediatamente procuro o que seria. É atualização do seu status, acompanhado, comemorando meses com a nova companheira.... Meses. 

Meu cabelo já voltou à cor natural, meu café acabou há algum tempo e já é primavera... 

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