E se eu fosse embora agora?
E se eu fosse embora agora, sem aviso prévio, sem lhe conceder explicações compreensíveis, sem ao menos dar-lhe a chance de se despedir com dignidade?
Se eu fosse embora neste instante passaria a pensar que atitudes poderiam ser mais empáticas, que sentimentos poderiam ser mais verdadeiros e que seu amor poderia ser mais cuidadoso?
Indo embora agora talvez você sentaria em frente ao jardim, com sua bebida na mão, e pensaria que é mais uma cena dramática que eu produzo para, quem sabe, chamar sua atenção. Mal sabe que indo embora agora as chances de repensar em nossas atitudes seriam desnecessárias; para mim a partida é a consolidação do fim.
Eu queria, sinceramente, que, indo embora, você ficasse se martirizando pelas chances perdidas, palavras proferidas e ilusões perdidas que nos deixou. Queria que sentisse um nó na garganta tão grande que a única frase que conseguiria dizer era para que eu ficasse... E, claro, seria em vão!
Se eu fosse embora já, deixaria um rancor em nós dois, pelas promessas quebradas, mentiras contadas e prazeres desperdiçados. Seria egoísta e levaria comigo apenas o meu sorriso falso deixando-o pensar que a decisão foi há tempos calculada.
Estas são todas hipóteses muito grandes, mas rasas e imprevisíveis. Se eu fosse embora agora geraria um ‘mar’ de possibilidades: eu poderia viver intensamente ou morrer ao primeiro passo só! Poderia aceitar a condição de desacompanhada ou cair na gélida solidão. Mas você, e você? E se eu fosse embora agora, o que seria de você?
Pensando friamente, acho que se eu fosse embora agora sua tranquilidade voltaria a reinar, suas horas seriam pacíficas e seu descanso seria certeiro, afinal, não sou eu que lhe tira toda a paz? O mais triste é que, ainda que eu estivesse indo embora, estes seriam meus questionamentos: e você, o que seria de você? Seria tudo tão confuso que ficaria evidente minha atitude incerta.
O problema maior de ir embora agora é que o efeito seria totalmente o contrário do que eu procuro. Há uma ilusão latente sobre a partida num momento de caos. Abandonar o barco nem sempre é tarefa certa, não quando há certezas de que soluções estão à nossa frente, basta alcança-las para que o naufrágio não aconteça.
Talvez se eu fosse embora já, lhe faria o convite para ir comigo, mas seria injusto com ambos: a mim por querer partir só e deixar-lhe a renovar seus sentimentos e atitudes e com você por não ter a mínima vontade de aceitar este absurdo convite por achar que a maré está como deveria estar: entre ondas ‘surfantes’ e apenas a calmaria azul.
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