Madrugadas que passam

Há muito tempo ela entendeu que a madrugada é para os fortes. Sabe aqueles que não têm medo de refletir sobre a vida nos momentos mais silenciosos do dia? Ou quando os feitos das últimas 24 horas ficam perturbando as ideias, deixando a consciência pesada de um dia que poderia ter sido melhor? Pois bem, ela não tem esse medo. Enfrenta sozinha as madrugadas, a pensar, sobre si, sobre o outro, ou nada... que seja, pensar não é específico.

O problema maior é que é neste momento, somente neste, em que está sozinha, é que a saudade apresenta-se em lágrima, uma, só uma, amarga e doída. Saudade do que entende que poderia ser diferente, do que lutou e não conseguiu findar, como uma batalha em que ninguém determinantemente sai perdedor, apenas sem sucesso. Saudade esta que enfraquece o coração e a deixa vulnerável ainda que seja de madrugada. Pensa que pode sempre mostrar mais, declarar mais, fazê-lo sentir mais!

Daí os pensamentos rolam soltos. Lembra constantemente do momento em que o encontrou. Em meio ao caos em que estava, a calmaria dele seria a saída de tudo. Acho que ele viu nos olhos dela a vontade de tê-lo. Perto... nem precisava ser, naquele momento, tão intensamente, apenas perto, sentindo o cheiro do seu perfume e encostando seu braço em sua cintura, seria inteiramente suficiente.

É claro que dali, os dias seguintes, foram de uma completude inevitável e inesperada. Por mais que a esperança dela era permanecer em sua companhia, a certeza disso só veio com a permanência dele nos dias confusos dela. Já era sabido que muitos outros casos eram apenas acasos, este; você, ele; era preciso, foi preciso e ainda o é!

Difícil fazer-se entender, por mais que expresse em palavras, atitudes e gestos muito, muito transparentes, há uma certa dificuldade na comunicação dos dois... 

E é nestas horas, na madrugada, que tenta, em palavras escritas, desenhadas à sua própria imaginação e sentimento, palavras ritmadas em compasso ao seu coração, que tenta transmitir verdadeiramente o amor por ele. Este iniciado há nove anos, longos e intensamente vividos. Anos gostosos, complicados, chorosos e com certeza cheios de alegrias. 

Ama-o não só porque é educado, gentil e adora um samba. Ama-o pelo cheiro, pelo abraço matinal costumeiro, pelo pelinho da sobrancelha que ressalta fora da linha... pela calmaria que a conquistou de início, pela visão positiva que ele tem do mundo e pela fé que coloca nas pessoas. Ama-o! E isso é suficiente para esta comemoração diária e, hoje, especificamente.

Nesta madrugada em que detalha um sentimento bastante indescritível ao mesmo tempo extremamente palpável, termina seus escritos com a certeza de que deixou bastante audível sua mensagem. Saltam do papel como forma... forma de abraçar, de admirar, de escutar falar bobagens do dia.
Nesta madrugada em que terminou de detalhar tudo, dorme! Dorme com a certeza de que a madrugada é para os fortes e ela passou por mais uma! A madrugada só, mas a vida com ele!

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