Xadrez
Como um ímã, meus olhos encontravam os dele e a cada olhar um sorriso saia dos seus lábios e dos meus apenas um suspiro que eu achava ser quase despercebido. Só entendi que não era quando ele terminava o contato rindo nervosamente, como alguém que comprovou a conquista.
Por alguma distração o perdi em meio a tantas pessoas desconexas, aleatórias. Pelo menos para mim, não me encontrava em ninguém, na verdade nem estava perdida, não sei porque eu estava com isso na cabeça, bagunçou-me o juízo, acho!
Mais um gole, desta vez foi meu e não era um chopp, pedi naquela noite uma dose de licor, apenas uma pequena e intensa dose. Seria apenas isso. Assim que virei o pequeno gole, com as bochechas ainda quentes e ruborizadas pela bebida, senti tocarem minha cintura e uma inebriante voz ao ouvido: estava procurando por mim, né?
E eu achando que o rubor no rosto seria passageiro... a frase dita tão vagarosamente, com um toque malicioso, é claro, deixou-me ainda mais acanhada. Ele notadamente sabia que eu o olhava ao redor tentando encontrá-lo, e fazia questão de observar-me ao longe, vendo minha procura silenciosa por ele, mais uma comprovação de que ele estava chegando próximo do seu objetivo: um beijo, apenas um.
Parecia que quanto mais eu evitava, mais forte era a vontade de deixar tudo fluir.
Sentindo já a boca seca e sem a menor vontade de procurar outra fonte, pedi outra dose, desta vez um Whisky, achei que a evolução fosse querer ser insinuante o suficiente. Acredito que foi, sem mais delongas, passou por mim novamente e fez seu movimento que, sendo sincera, foi quase fatal. Afagou meus cabelos e, numa surpresa calorosa, puxou-me próximo de sua boca. Mas só falou-me ao ouvido de novo. Já em êxtase - não por ele, não por mim, mas pela jogada, pela conquista boba lembrando adolescentes – me aproximei ainda mais. Como se fosse um movimento de xadrez, seria a minha vez de fazê-lo pensar na próxima jogada... Não o deixei mais falar, eu é que sussurrei: nada faça, só olhe.
Estava tão rente à ele que embacei seus óculos. Parado, ainda sem entender muito o que eu quis dizer, soltei a mão dele dos meus cabelos, deixando apenas uma brisa do meu perfume pra trás.
Saí de perto, sem que ninguém visse, era tudo muito silencioso, escondido. Sentei-me na cadeira à frente, pensando se tinha deixado uma porta aberta ou encerrado uma jogada que nem deveria ter se iniciado.
Olhei uma única vez pra trás e ela já tinha voltado, estava a abraçá-lo. Ele fitou-me, quase envergonhado. Virei minha terceira dose, desta vez foi uma taça de vinho tinto, ambientando bem uma despedida dramática. Peguei minha bolsa em cima da mesa, deixei o dinheiro embaixo da taça e segui. À casa, só, com ar de quem conquistou usa própria liberdade.
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