Mais um fim

Ao fundo, além da sua voz, escutei aquele som gostoso de chuva a cair. Fiquei imaginando o cheirinho que subiria com a água a molhar do solo, o frescor que seria deixar que a chuva chegasse ao encontro, pelo menos, das mãos, que certamente também iriam de encontro ao rosto... deixando até a ideias menos tensas.

Tentei focar no que dizia, escutar apenas o som da sua voz, mas parecia tão baixinha em relação a tudo que estava acontecendo, inclusive o caos dentro de mim.

Enquanto ousava falar insistentemente, ainda que percebendo meu imenso desinteresse, fiquei a lembrar das noites que era apenas isso que eu queria ouvir: o som da sua voz. Noites distantes, que passávamos a conversar banalidades, fragilidades, intimidades... coisas assim. Lembra?

Horas que passavam sem nem ao menos percebermos. O que mudou? A inquietude em seu olhar tomou força, o sorriso ficou forçado e a voz... ah, esta perdeu realmente a veludez.

Não era mais você meu destino esperado ao fim do dia. Mas, o que me doía mais era saber que eu também não era o seu. Hipócrita, não? Egocêntrico, talvez... 

O que quero dizer que é não somos mais. O plural me confortava; ser parte de uma relação de certa forma me definia. Ser motivo de um palpitar mais forte fazia com que meu compasso também seguisse o mesmo ritmo.

Sem preocupar-me em parecer clichê, digo em verdade que o sentimento me move, e você era uma completude que achei ser definitiva.

Enfim, o fim. E, agora, ainda a escutar esse ruído ao telefone, me fez querer ainda mais lavar-me nessa chuva primaveril... lavar a alma e deixar escorrer quaisquer resquícios de você.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crônica para um novo ciclo

Meu controle

Bem viver