Apenas uma pretensiosa carta
Parece antiquado o fato de escrever-lhe carta em momentos que a comunicação é digital e tão rápida atualmente. Mas acho que a intensão é não ser rápida e sim certeira, intensa.
Se fosse lhe escrever por mensagem iria ler e querer responder tão logo. E onde ficaria o sentimento de cada letra escrita por meu próprio punho? Onde estaria a reflexão já que a estaria lendo sozinho, num conforto de horário e local (que nem sempre o celular nos concede)? Onde estaria a sensibilidade de entender que a coisa é séria por procurar uma forma não convencional para lhe comunicar?
Sim, chega a ser um comunicado. Após tantas tentativas de conversa, alerta, pedido, súplicas... chegou o momento de apenas lhe comunicar como será daqui pra frente...
Comunico a você que apesar de todos os nossos desentendimentos, eu prefiro estar em sua companhia. Há sim momentos em que a solidão serve de reflexão, mas momentos, específicos, únicos e pontuais.
Comunico a você que, caso ainda não tenha entendido, sou muito segura de minha personalidade. Sei quais são meus defeitos, me envergonho deles e os tento corrigir. Faço isso por mim, para ser uma pessoa melhor para mim mesma e para aqueles a quem amo e a quem quero deixar bons exemplos. E isso sabido, considero-me uma p* mulher, difícil de conviver (sim) mas fácil de amar (sim, sim). Acho até que sou bastante exigente com você, porque o sou comigo. Cheguei neste ponto como pessoa e, claro, ao meu lado quero alguém com a mesma vontade de evolução e compromisso.
Comunico a você, ainda, que fidelidade, ao meu ver, é apenas uma parte da lealdade... esta sim é que deve estar presente em nossa relação. Inicia muito antes do encontro com outra pessoa, de fato. Vai desde o pensar, desejar, trocar confidências, olhares, promover encontros... e em consequência de tudo isso há a mentira ainda, amplo, não? E isso afeta-me diretamente pois é algo que não me vejo aceitando e, muito menos, fazendo com você! Aqui eu poderia dissertar sobre o poder e a intensão da omissão (explicada, muitas vezes, como benfeitora e tal) mas não vou alongar isso tudo.
Comunico a você o que o respeito é tal qual o parágrafo acima: enorme, envolve muitas vertentes. Lhe garanto que preservar o sentimento do parceiro é uma forma de respeitar-nos. Tens me desejado o bem ainda que em discussões diárias? Se escrevo-lhe estar carta é porque profundamente acho que não. Sinto em você, no seu olhar, no tom das suas palavras, que quer me machucar, prefere o seu orgulho à minha lucidez. Isso dói mais que batida do dedinho na quina da mesa.
A individualidade do ser humano é incontestável e inerente. Comunico a você que sei disso. E acredito que numa relação não há motivo de perder esta individualidade, perder a identidade... levanto a bandeira de que fazermos a mesma programação só quer dizer que gostamos das mesmas coisas, lugares, música e da companhia um do outro e não que lhe vigio ou lhe controlo.
Antes que esta carta passe a ser um livro (o qual, pra mim, não teria problema algum, até porque já fiz um) lhe faço um último comunicado, caso após 10 anos não tenha entendido ou sabido lidar: cada palavra, cada entonação, cada sentimento depositado em nossa comunicação conta, e muito. Somos resultado da nossa relação e se ela é falha por conta de uma comunicação pouco funcional não implica, então, numa ilusão conjugal? Se não há entendimento, se não há bem-querer recíproco, o que somos afinal?
E, como bônus de uma carta já tão pretensiosa, comunico que estarei aqui a esperar sua reflexão e pontuação, já que sempre tem opinião e isso é um dos pontos que mais admiro em você. Espero, sinceramente, que deixe sua teimosia, sua vontade de estar sempre certo e egocentrismo de lado e entenda que essas palavras era mais necessidade minha de um saber seu, como se a responsabilidade fosse dividida... já leu algo sobre responsabilidade afetiva? Bem, vamos lá...
Comentários
Postar um comentário