Meu vício!
‘Não sou muito boa em despedidas!’ Dito isso, permaneci imóvel na cadeira que me acolhia há algum tempo e já me incomodava as pernas encolhidas junto ao corpo, desconfortavelmente.
O cigarro na mão já se juntava ao cinzeiro com inúmeros outros, mal acabados, assim como nós. Cinzas ficavam por ali, significando nada mais do que algo que um dia foi e não o é mais. Nem me esforçava para limpar as pequenas sujeiras que ficavam na mesa empoeirada, eram apenas resquícios... Acendi outro, esperançosa pela nova sensação de uma nova tragada, em vão.
Só me observava ali, com meu vício, enquanto eu confessava o outro: você mesmo. Entenda, vício! Como algo negativo, não me fez bem e não consigo deixá-lo ir. Quero-o longe. Preciso manter o respeito por mim mesma. Aos prantos só ordeno: Vá! Vá, sem volta. Sem recaídas. Não preciso de mais vergonha e melancolia.
Não era incomum esta cena, não? Por isso mesmo que ela devia ter um ato final, este! Que seja este! A cada vez que bateu a porta me deixando para trás matou um pouco do amor que eu insistia em ter por você, ainda assim se foi e o recebia sem perguntas, exigências e nem amor próprio. Só me alegrava por estar de volta. Not this time!
Mesmo sob minha ordem continuava parado a me olhar, como se não acreditasse que este era um fim que já estava escrito. Convenhamos, não começamos bem, nos conhecemos no pior momento de ambas as vidas, como consolos ingratos e insuficientes... Onde achamos que isso iria dar?
Nem em nossa melhor época, quando pelo menos os lábios tinham cor e as roupas era menos amassadas, não nos fazíamos bem. It’s a poison. Somos tóxicos um para o outro. Não me encare, apenas interiorize o sem de minhas palavras e aceite o comando: vá, por favor, não volte.
Mais um cigarro, acendo mais um, desta vez a esperança era de que ouvisse meu pedido, não mais ordem. Neste ponto já aceito que não tenho comando, nem sobre minhas próprias vontades. Lembro quando eu era dona de mim, dizia que esse era meu encanto. Como que o tira de mim assim? Meus cabelos já não brilham como antes, meus perfumes são apenas os odores dos cigarros que me acompanham já até na cama, onde você deveria estar. O que faço com meus belos vestidos e laços que não me convém mais?
Percebendo sua inércia, eu mesma levanto-me e preparo uma pequena mochila, vou-me. Stay there! Não quero vê-lo sob meus ombros, nem em cada esquina que for... Não me lembre que preciso de você, apenas me liberte disso tudo. I need a love rehab.
Quer saber? Fique, nem se despeça, essa seria uma tentativa de me fazer inebriar-me de você mesmo. Fique deste mesmo jeito, eu tranco quando sair. Ou melhor, deixo a porta aberta para que também saia, se liberte, merecemos. Não posso nutrir-me de você quando o que me oferece é apenas o seu pior.
O fiz. Sai e a porta ficou aberta até que ele pudesse ver meus passos descendo as escadas, sem os cigarros. Degrau a degrau, fui sem olhar para trás. Os passos pesados, deixou minha caminhada ainda mais triste. Sentei no primeiro banco que vi na praça florida, acho que as cores me deixaram aliviada daquela cena preta e branca. Procurei os cigarros e não estavam lá, lembrei que também os abandonei. Peguei o livro que me restava no fundo da mochila... Poesias Completas - Canção: (...) Nunca ninguém viu ninguém que o amor pusesse tão triste. Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem (...) – Amada Cecília!
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