O que seriam das lágrimas tortas se só as lineares pudessem cair dos olhos?
E não estou falando de grandes feitos não! Não estou dizendo que seria aquela viagem dos sonhos ou mudança de país que tanto gostaria que acontecesse. Bem, longe de mim invalidar estes grandes sonhos, mas quero mesmo é que pensemos sobre os menores, por enquanto.
Tive uma situação impactante no último final de semana que me pôs a pensar com mais afinco sobre os desejos, realizações. Com isso, também me veio a reflexão sobre a movimentação que eu tenho feito, ou tenho permitido que aconteça, para que realmente tudo se suceda.
Às vezes o que queremos é só passar pela experiência de tomar um café especial, com todo o requinte de uma Cafe de La Paix (ainda que seja apenas a melhor da cidade, digamos)! Mas, até que ponto nos permitimos ir mesmo? Será que não ficamos nos podando, tentando nos convencer de que é caro demais, de que café fazemos em casa mesmo ou de que podia ser um dinheiro gasto com coisa mais importante?
Ou pensemos que a situação seja aprender uma simples atividade como andar de bicicleta. Conheço pessoas que passaram uma vida sem nem sequer sentir os cabelos ao vento pela velocidade que aquelas duas rodas conseguem chegar com nossas próprias pedaladas. E tinha vontade de fazê-lo! Não o fez por medo de cair ou por não achar que seria competente em aprender na primeira tentativa.
Já parou pra pensar o que pode nos impedir disso? Às vezes acho que nos limitamos demais, acreditamos demais na nossa mediocridade e acabamos por não considerar o nosso merecimento genuíno! Não digo que seja medo de um fracasso possível – o que seria interessante já que fracasso é mais uma etapa da vida a ser superada – mas acho que é apenas por não acreditar no merecimento próprio mesmo.
E de novo, pense no pequeno: naqueles passos de dança que gostaria muito de ter, sem compromisso, sem plateia, sem música! Apenas compassar os pés na melodia que toca na sua cabeça, apenas na sua cabeça.
Não choramos os choros mais sinceros, em momentos emocionantes que presenciamos ou mesmo pelos momentos nos quais somos possíveis protagonistas porque podemos ser julgados por tamanha sensibilidade. Ver o irmão casar, se emocionar com a decisão de vida dele e saber que somos parte disso é motivo de um pranto alegre e profundamente compreensível. Não devíamos ter medo de viver isso por nada!
Deixamos de cantar em plenos pulmões porque o canto pode incomodar quem não entende a letra da música, ou porque não temos a voz certa para determinado tom musical. E por isso deixamos de experienciar colocar pra fora todo sentimento cantado que existe em milhares de canções já escritas.
Deixamos de casar porque pedir em casamento é se colocar em uma posição vulnerável, afinal, o outro é quem lhe responde ao pedido. E esquece que se colocar à disposição de quem ama, por si só, é um ato de auto amor. Está compartilhando o que você tem de melhor! Quer situação mais viva que essa?
Deixamos de cumprir nosso propósito porque entendemos que isso seria apenas relacionado a coisas extraordinárias como a invenção de um grande avanço tecnológico ou a cura de uma doença. E não é. O propósito de vida é simplesmente ser feliz com o que se tem e é e, com isso, expandir a felicidade àqueles que nos cercam. Somos medianos em muitas coisas, razoavelmente ‘tentantes’. E é daí que extraímos as melhores e mais gostosas vivências.
Dançar quando quiser, chorar quando sentir vontade, cantar quando as palavras já não cabem no próprio peito... a permissão para viver não tem que ter motivos de ser. A cobrança por fazer sentido ou pela perfeição de cada coisa a ser feita pode nos limitar e com isso deixarmos passar momentos incríveis, e que estão ao alcance possível!
Que não esperemos mais o momento perfeito, as condições essenciais... o tempo é seu, bem como a experiência de vida a ser explorada.
O que seriam das lágrimas tortas se só as lineares pudessem cair dos olhos?
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