E se?
Era 2010, um sábado de setembro, mês em que as cores ficam mais vivas, o cheiro das flores inunda as praças da cidade e as chuvas aparecem em companhia de brisas mais leves. Mas naquela noite nada disso me veio à mente, seria até mais um detalhe que contaríamos ao relembrar da história.
Eu o vi naquela noite. Não só isso, o conheci. A noite já tinha começado há algum tempo, o que quero dizer é que eu já estava envolvida no que aquele sábado queria me proporcionar. Não procurava nada além de copos meio cheios, músicas que me inebriavam a mente e pudessem me desligar das amarguras que me abatiam.
Pois é, tem dias que me ligo nas tristezas da vida, me conecto com as situações mais controversas que podem nos acometer e não saio disso. Mas naquela noite eu me propus a desligar, desconectar.
E aí surgiu ele, naquele dito e bendito sábado. Na verdade, ele veio de mansinho, sem alarde, sem mostrar interesse imenso. Não sei se pela timidez, pela insegurança ou desinteresse. Hoje digo que seria, com toda certeza, a maneira que ele achou de me seduzir. Acho que leu em mim essa preferência pelo duvidoso, enigmático (acho que é essa a palavra mesmo).
Sem muita conversa, nos encontramos, em diversos níveis, pelos dias sequentes. Com muitas promessas e ações medianas. O que já me foi dando alerta de que a conquista acabaria sendo mais importante do que mantermos qualquer interesse mútuo. E digo por mim também.
Não me ligo muito nesse clichê de ‘antes só do que mal acompanhada’, na verdade acho que isso nem existe. Qualquer companhia é válida, nos ensina alguma coisa que valha para vida, seja para sabermos do que gostamos ou não. No caso aqui, acho que eu podia dizer que ele me mostrava, nesse início insosso, o que eu estava aprendendo a não gostar.
Pode ser que eu simplesmente não estava disposta mesmo, mas acho que era mais minha intolerância a companhias insípidas. Relativo, não? Mas foi o que eu senti. Ele não tinha vontade de vir ao meu encontro e eu não me esforçava para ir ao dele. E assim alguns dias passaram sem que nem mensagens fossem trocadas.
Acaba que os abraços se esquecem do aconchego do outro, o cheiro passa a ser irreconhecível e os lábios perdem o caminho para se encontrarem.
Com isso, aquela noite de setembro passou a ser só mais uma noite em que saímos para dançar. Nada mudou significativamente, e hoje, contamos histórias de nossas vidas sem a mínima ligação entre si.
Hoje bebo meu café solitário numa mesa qualquer em Londres, passando o feed sem interesse algum, esperando a hora chegar e eu me destinar ao primeiro compromisso do dia.
E ele, ah!, dele já não sei. Perdermos o contato e não me interessou saber como está, nem o que fez, nem mesmo se considerou me procurar.
Fizemos uma escolha naquela noite, decidimos nos conhecer. Escolhi lhe dar meu melhor sorriso e ele o seu abraço mais sincero, mas somente naquela noite. Depois nada disso importou, soubemos lidar bem com este novo combinado silencioso.
Ainda sentada, finalizando o café que não resistia ao frio que fazia naquele dia e logo perdeu toda a quentura interessante, pus-me a pensar: ‘E se? E se ele tivesse insistido em me procurar? E se eu tivesse ido à festa de aniversário dele que era naquele mesmo mês? E se ele tivesse aguentado minha personalidade ‘aperreada’? Pode ser que hoje estaríamos com nossos dois filhos já criados, tendo uma vida mais pacata numa cidade interiorana, planejando nossas férias do ano seguinte e contando aos amigos como aquela noite de setembro mudou o rumo de tudo.
Comentários
Postar um comentário