Estou de luto
Todos os dias temos vivenciamos um tipo de luto. Quase não prestamos atenção nisso. Com tantos afazeres e rotina, não vemos que temos alguma perda diária.
Não se ligue entendendo ‘luto’ como algo muito distante ou que especificamente a morte de alguém.
Luto é entendido como sentimentos, reações e experiências que podemos vivenciar quando há alguma perda. Essa perda pode ser algo ou alguém. Mas isso seria muito simplório quando refletimos na imensidão de sentimentos quando isso acontece.
Falar da falta de algo palpável é subestimar o luto em sua característica mor. Dar falta de alguma coisa pode ser sentida apenas pelo fato de que esta perda nos causou a falta de utilidade do objeto perdido.
Mas não quero ficar no raso da coisa, do assunto. Estou falando da melancolia do negócio, do drama da situação mesmo.
Diariamente um pouco de nós é perdido... o tempo, por exemplo. Ficou, já foi, passou. Esta perda de tempo, quando nos damos conta de que realmente foi perdido, entendendo que foi mal gasto, pode nos colocar em situação de luto.
Lamentar, relembrar o que foi feito ou não feito, pode ainda trazer sentimento de culpa, de vergonha. Isso pode nos paralisar se não tivermos autoconhecimento suficiente para lidarmos com isso numa rotina atribulada... Acho que até por isso mesmo é que não percebemos que temos lutos diários.
Mas hoje, infelizmente, vou ainda mais profundamente no meu luto pessoal. A perda de um sentimento que eu julgo importante. Somos cercados de situações que nos despertam uma diversidade de sensações. E por aí construímos nossos sentimentos em relação a cada pessoa, por exemplo.
Ama-se alguém por aquilo que trocam entre si, por aquilo que ela desperta em si, enfim, o movimento é de cada um, né? E perder isso se dá quase que da mesma maneira... O que ela faz para que lhe desperte sensações negativas ou contrárias ao amor pode lhe induzir a perder isso. Ou transformá-lo, vai... (Vou abrir este parêntese sobre transformação aqui porque podem entende que estou condicionando o amor a apenas atos feitos ou não).
Quando se ama alguém sabe-se e sente-se isso. Podemos até não saber explicar, mas internamente isso é construído de alguma forma a fazer sentido em nós. Perder este amor tem fases, acredito eu. E em mim, perder cada fase é um luto.
Sou essencialmente contrária a mudanças extremas. Gosto da coisa mais linear, sei que isso tem a ver com zona de conforto e tal, mas já entendi que prefiro manter as coisas como estão enquanto elas têm sua funcionalidade plena.
Meus sentimentos seguem esta linha... e quando eu sinto que algo mudou, que não vejo mais o outro como via e isso me traz sensações diferentes (e ruins), entro em luto. Justamente porque gosto de manter as coisas como estão.
Veja bem, eu entendo sobre movimentos para se evoluir e crescer e isso denota mudança! Amadurecer pode fazer isso conosco. O problema é que nem todos caminhamos no mesmo passo, no mesmo ritmo, quiçá nem trilhamos o mesmo caminho. E aqui têm-se um luto também: a possível separação.
Perder um sentimento é dolorido porque essencialmente isso não depende única e exclusivamente de nós. Se eu noto que o outro está com um comportamento que me faz perder a admiração por ele, como permaneço sozinha nisso? Tentar entender, argumentar sobre amadurecimento individual, ponderar até sobre diferenças de criação são apenas recursos de compreensão, mas isso não define o sentimento que nos desperta intimamente.
Entristecer num luto por um sentimento que se foi é dolorido sim! Isso nos coloca numa posição, inclusive, de escolhas. ‘O que farei com isso agora?’. Estou literalmente me perguntando: o que farei com esta sensação nova? Cabe a mim decidir como vivenciar esta perda, como tornar este luto produtivo.
Mas, neste momento, neste exato momento, vou apenas vivê-lo. Dizem que ele, o luto, tem etapas né? Acredito que passei pelas anteriores mais caladinha. Agora, já entendida e triste por isso, ainda choro e me lamento. Sinto que é meu dever colocar pra fora, só então conseguirei aceitar que as coisas serão diferentes. Terão que ser! Por enquanto, só estou de luto mesmo.
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