Vivo de excessos

A gente não esquece o dia que se perde, não é? Eu me lembro bem, principalmente porque foi um caminho sem volta... não que eu quisesse voltar, realmente segui e nem olhei para trás.

Eu só tinha ouvidos para suas palavras que saíam tão deliciosamente proibidas da sua boca.

Fico imaginando o que passava em sua cabeça naquela manhã de sábado, para parar o carro à beira da calçada, abaixar o vidro apenas pela metade (indícios de um encontro clandestino) e fazer o convite totalmente pretensioso: que tal um café?

Não sei se foi coincidência ou realmente estávamos na mesma sintonia, mas estava ansiosa por um café. Daqueles quentes, encorpados, fora da rotina. Acertou com o pedido e eu só pensava em dizer ‘sim’.

Aí tudo começou. Aqui, definitivamente, foi aqui que me perdi.

Loucuras de encontros. A gente não teve limite para a criatividade em conjunto. Deixamos qualquer música profana nos envolver. Abraços envolventes sem nos distinguirmos como dois. Beijos intermináveis, nos lambuzamos com infindáveis prazeres. Me levou totalmente o juízo e o melhor de tudo é que eu não o quero de volta. Leve-o com você, e só venha quando quiser deixá-lo ainda mais insano.

Meu deleite é que vens todos os dias. Estamos num escândalo interno, sem cúmplices e com um silêncio mantido apenas por nossos quereres. 

Seria leviano tentar nos defender se eu disser que estamos com a melhores intenções? Não quero e nem pretendo fazer tal defesa, sou culpada, sei! E não entendo porque isso é tão negativo. 

Sou culpada por pensar em você a cada minuto, querer te ver de pertinho, te querer tão próximo para sentir apenas o cheiro da sua pele,  naturalmente fresca; quero-o tão perto a ponto de tocar-me, não só a pele, tocar-me dentro, sabe?

Só me toque, mais! Assim como os cafés fortes, os sentimentos intensos... este novo excesso, que é você, um dia me mata. Estou prontamente a exceder-me!


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