Bem viver

Estamos com o péssimo hábito de sermos rasos. Se fosse só isso, até que a resolução poderia ser mais considerável, mas também estamos imediatistas.

As respostas têm que ser rápidas, os retornos acontecem quase que imediatamente, os prazos para quaisquer decisões estão mais curtos, parecer feliz tem que ser agora. E assim, nota-se que o caminho até a felicidade não é mais apreciado.

Pare e pense, desde quando os processos, a vivência, as experiências deixaram de ter a importância devida? Isso aconteceu sem um marco exato, sem percebermos. A vida foi acontecendo e deixamos de notá-la em sua essência. O barulho do mundo tomou conta de todo pensamento interno que nos auxiliava a viver e externar na intensidade genuína de cada ser.

Sim, intensidade. Imagino eu que todos temos sentimentos, quereres, gostos... o ser é mais intenso com essas emoções!

Considere essas vivências mais profundas não apenas como grandes acontecimentos, grandes amores, grandes conquistas... os detalhes, aqueles pequenos mesmo, os pormenores, são deliciosamente complementares.

Quando paramos de notar a vivacidade dos primeiros raios do sol entrando pela janela, dando notícias de que mais um dia chegou, mais um dia cheio de vida? 

Qual foi a última vez que nos deixamos seduzir pelo cheiro delicioso de pão recém-saído do forno? E esperar que a manteiga derreta na quentura da massa...

Não é só isso, pense em tudo que estamos deixando de aproveitar: cochilo de tarde após um belo almoço, abraço diário de uma pessoa querida, olhar confiante e amável do cônjuge, lençol esticado na cama com cheirinho de limpo, bolo de vó (cuja receita você prometeu anotar e replicar), roupas recém lavadas com cheirinho de amaciante, ver o sol sair de cena e deixar o alaranjado tomar conta do céu, parar a rotina e ir molhar-se na chuva quando os primeiros pingos dão sinal (afinal, está tão escassa), sorriso sincero de alguém estimado, reunir a família no domingo, lavar o cabelo com shampoo novo, comer pastel de feira, experimentar um novo sabor de sorvete, falar com um amigo coisas triviais do dia e que nos alimentam a alma justamente por ter tanta alma envolvida.

O apreço pela nossa vida, nosso tempo, nossas vontades e necessidades tem que ser superior a quaisquer outras urgências alheias. A prioridade é estar internamente completos, só assim conseguiremos ser os demais papeis que precisamos e queremos desempenhar.

A narrativa da sua vida é inteiramente sua. Faça-a ser inebriante, para você. Sem expectadores, sem julgamentos, sem aprovações ou reprovações. O nosso propósito primordial é viver, bem viver. Intensa e plenamente, viver!

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