Pedidos constrangedores

Se eu te pedisse sua companhia, seria fácil pra você sentar comigo na rede da varanda, onde a brisa de leve nos bate nas bochechas que esquentamos com uma xícara de café recém passado?

E se eu fosse além, e pedisse um abraço nostálgico, daqueles que sentimos todas as nossas mais ternas lembranças de acalento genuíno, conseguiria dar-me?

Ou se eu propusesse que montássemos uma playlist com músicas nossas, nossas músicas? Aquelas que nos fazem lembrar de momentos únicos, que nos fazem sentir juntos sem estarmos, aquelas que nos rolam lágrimas sutis por apenas tocarem leves melodias, aceitaria?

E se meu pedido fosse apenas o envio de pequenos lembretes, no papel mesmo, como recados diários, como presença distante, de um casal que pouco se vê mas muito se lembra, o faria?

Se eu, repentinamente, esquentasse meus pés gélidos, que recebem o frio numa noite de inverno, nas suas coxas quentinhas, deixaria como um afago ao meu coração ou recriminaria tal ato como absurdo individual?

Mas se quisesse que jantasse comigo em suas noites de folga? Jantares simples, na mesa de casa, com a toalha batida, os pratos brancos e as colheres de pau mesmo; sem vinho nem guardanapos. Ainda assim, estaria com sua melhor roupa para apreciar minha companhia?

Não pediria mais nada a não ser seu sorriso mais doce e sincero, sua risada mais gostosa, seu humor mais autêntico, nas horas mais aleatórias. Não seria nada de mais, não?

Ah meu pedido mesmo seria uma peripécia... Seria problema pra você dar-me a aventura de um beijo carinhoso no pico mais alto de uma escada rolante qualquer?

Pediria, acho eu, que dançasse comigo, no tapete sujo da sala, sem luz, só o som, no volume mais alto que consigamos escutar, qualquer música que seja, desde que transpareça sua alegria de embalar-me em seus braços. Pediria isso!

Mesmo agora, pensando em todas as suas respostas, torcendo para que sejam positivas... eu não pediria; eu não faria nada disso, não pediria. 

Ainda que eu não consiga disfarçar, não o colocaria nesta posição. Seu olhar tem destino, sua boca, direção específica e seu abraço fadado a ser de outra que não eu.

São devaneios, desejos íntimos e ínfimos. Deixe-me aqui apenas a pedir, sem precisar que me retorne... algum dia, almejo eu, que esses desejos lhe cheguem e, sem precisar escolher, caia em graças e que elas sejam minhas.

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