O que eu quero ser
Uma vez, em um dia passado, escutei alguém dizer pra eu prender a abrandar meu sorriso. Fiquei por minutos a pensar o que isso significava. Abrandar meu sorriso... Confesso que não me ofendi, eu literalmente escutei, interiorizei e meus lábios, instantaneamente, se fecharam.
Por algum tempo senti este peso: não transparecer minha genuína simpatia. E não foi só nisso que a decisão de aquietar-me afetou a vida. Parece que as músicas mais tocantes ficaram insossas, as letras mais intensas ficaram rasas, a cor mais vibrante ficou sólida e fria, nem as páginas mais profundas me prendiam numa atenção única.
Sem nem saber o motivo disso, continuei assim até que não mais! Não mais... qual o sentido? Nem o imperativo que iniciou isso tem argumento pra se sustentar: abrande seu sorriso!
Ainda mais à mim, uma libriana tão intensa – se é que me permitem a redundância! Sequei a pequena e única lágrima que me desceu à face e permiti-me... tudo.
Abri o mais largo e sincero sorriso novamente, acompanhada dos meus desejos internos a me sustentar. Seria de novo uma caminhada inesperada. Com os sentidos abertos e limites sem fronteiras.
A brisa chegou-me aos cabelos e os fez danças conforme a música que estava ao fundo, tocando, chegada aos ouvidos como mantras. A leveza da minha decisão de me permitir ser foi indescritível.
Não há ordem alheia, ainda que inaudível ou mesmo escusa, que me faça voltar ao estado inexpressivo que deixei acontecer. Pra mim o pior é isso: eu deixei.
Vou cortar o cabelo de forma irregular e pintar parte dele de azul, vou fazer uma nova tatuagem sem escolher antecipadamente o desenho, tomar café perto da hora de dormir, vou observar a lua no início da tarde e dançar sem música nem motivo. Leio Drummond sem chorar e choro assistindo comédia. Começo meu livro pelas últimas páginas e ainda assim me surpreendo com o começo da história. Sorrio sim, sem motivos, e com o sorriso mais escandaloso que tenho.
Não é sobre me impor nem mesmo me fazer pertencer a nada, é apenas por ser o que eu sinto que quero ser. Isso sim é ‘simples assim’.
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