Melhor parte de nós dois
Deitada na cama, cheia de determinações, pensei nas vezes em que estragou meu dia com seu comportamento avoado. Na verdade, repensei. Reformulei minha lembrança confessando que me chateei pelas centenas de vezes em que eu deixei que o fizesse comigo... Era apenas sua maneira de ver o amor... sem maiores implicações.
Você achou que houve o fim porque sou demasiadamente exigente. Ó, antes fosse. Parou para pensar se não foi sua mansidão que passou dos limites? Deixou de cuidar-me. Abraçar-me, beijar-me... O que mais fazíamos que não conviver apenas?
Pensa que estou a chorar, a sentir sua falta? Pois sim, estou. Foi meu mundo por longos anos. Bons anos, até que pararam de ser. Por isso o fim. Lhe disse desde o início que não tinha meio termo, que meu maior medo era que caíssemos na rotina, fôssemos engolidos por atividades diárias, monótonas que nos levassem com elas a mundos preto e brancos. E assim aconteceu.
Ainda em meio aos lençóis, confirmando meus pensamentos aleatórios sobre nosso rompimento, vejo de longe a caixinha em que guardava nossas lembranças. Por algum motivo a esqueci no fundo do guarda-roupas. Deixe-a lá, não quero ocupar-me com desajustes sentimentais nesta hora da manhã.
Procurei outra forma de desabafar que não fossem palavras escritas. Não queria fazer um texto, não queria ninguém pensando – ou lendo-me – triste, me importando ou sentindo sua falta. Mas alguma vez fui desonesta em relação aos meus sentimentos? Acho até que minha sinceridade emocional era firme demais, há aspectos que devemos deixar serem revelados e não os estampar banalmente.
Totalmente desperta, com certa preguiça, levanto-me para o banho matinal. Vejo, de cara, sua toalha entre as minhas... Coloque-me a chorar. Por isso não queria escrever, eu sabia que me descobririam fraca e, pior, apaixonada. Desde o dia em que o mandei embora minto para mim que durmo melhor sozinha. Que o uso do desodorante é exclusivamente meu e encontro facilmente minha escova de dentes... como se fossem coisas positivas. Não são.
Subi na cama com um pé, o outro no próprio guarda-roupas, tirei a toalha bruscamente, como se fizesse com você mesmo. Continuo a pensar que você poderia ter agido diferente, tomado iniciativa em várias situações... a raiva é que o culpo por isso e nem posso mais dizer isso à você. Gostaria de gritar e chorar apontando para o culpado que acho ser você. Mas me poupei desta vergonha contínua e o mandei embora, não só da minha cama, mas da minha vida... faltou de dentro de mim, continua dentro de mim.
Pelo menos esta parte de você é ativa, sinto-me viva por dentro. Algo ficou de nós, acho que o melhor de ambos. Você ainda está dentro de mim, e nem sabe. De várias formas, mais vivo que pensa. Você ainda está dentro de mim, é uma bênção, como eu queria que fosse.
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