Somente palavras

Pra mim sempre foi uma declaração escancarada. Cada palavra que tomava forma na tela era a materialização do tudo o que eu sentia, no mais íntimo. Palavras que saíam de mim de forma tão natural como minha própria respiração; acontece de forma involuntária, mas, necessária bem similar ao sentimento que tenho por ela. Via como um acontecimento notório até mesmo por isso não entendo ela ser tão cega quanto à isso.

Foi nesse contexto que mais uma vez ela me pegou desprevenido, sem ter palavras para me explicar – como se isso fosse possível. Mas não que eu não soubesse o que acontecia e nem que tudo poderia ter suas razões para assim serem… é que ela simplesmente não entendia, ou não queria entender, sei lá, às vezes acho que nem ela se entende direito.

Imagine, estava eu sentado concentradíssimo em meu computador já a tantas da noite. As teclas quase saíam voando de tanta rapidez e emoção e euforia e dedicação… sem respirar! Há muito não comia e nem lembrava disso. Ela chegou em casa ansiosa por um beijo, ou um abraço, ou um comprimento, ou pelo menos um olhar de rabo de olho apenas para checar sua chegada ali. Eu fiz questão de desapontá-la… Não que eu fizesse intencionalmente, claro que não, eu a amo… e era isso que estava a provar ali, ocupado em minhas teclas e páginas e palavras e textos…

Não sei bem como se deu a sua saída. Escutei apenas algumas poucas palavras que ela gritava… algo sobre atenção, falta de carinho e que eu tinha que provar. Acenei para que ela soubesse que estava ali escutando o que ela tentava enfiar em minha cabeça mas, surpreendentemente ela ficou ainda mais chateada. Mal ela sabia que meus dedos se moviam tão freneticamente para que ela sentisse o meu conforto e carinho através de minhas escritas, ou palavras digitadas, ideias passadas para tela, como bem quiser…

Realmente percebi que tinha me deixado quando amanheceu o dia e não vi meu café ao lado do computador. Era assim que ela iniciava nosso dia, me proporcionando ‘combustível para a realização de coisas incríveis’, assim ela dizia. Sem café, sem cheirinho do shampoo dela vindo do banheiro, nem da bronca matinal por conta da minha estadia frequente ao computador… Aí senti falta.

Mas continuava a pensar que ela apenas não me entende, que fazia por ela, pelo meu sentimento por ela. Achei que meus textos sobre nós a faria compreender meu sentimento. Achei que somente palavras seriam o suporte para a nossa convivência. E assim se foram as flores meticulosamente colocadas nos cantos da casa, se foram os fios de cabelo que teimavam permanecer no travesseiro mesmo após sair da cama, se foi o perfume doce que incendiava o quarto a cada borrifada em seu pescoço… se foi a rouquidão da sua voz a me seduzir… apenas pela importância, às vezes demasiada, que dei às palavras… Ditas ou não ditas.

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