Sinais de vida

Ela fechou os olhos, finalmente. Com ar cansado, deu apenas um curto e profundo suspiro e deixou-se cair sob os lençóis delicadamente escolhidos para aquele momento. Tinham um cheiro doce, bem como gosta dos seus perfumes, isso a fazia lembrar dos belos momentos que estava prestes a perder, por capricho…

Tentou limpar a mente; os pensamentos frenéticos tomaram um ritmo mais ameno, e continuou com os pequeninos olhos fechados, desta vez com a ajuda das mãos que apertavam o rosto, quase como se quisesse esconder-se de si mesma.

Envergonhada, ainda com seus dedos sob os olhos, chorou baixinho, bem baixinho. Num silêncio notavelmente impossível, pegou o travesseiro, na cegueira que se fazia, e o acomodou abaixo do ventre.

Agora, aconchegante, abaixou uma das mãos a acariciou a barriga. A quentura da mão foi de encontro com a pele sensível e a fez remexer na cama. Ainda com os olhos fechado, sentiu escorrer a primeira lágrima em seu rosto, desceu quente também… Chegou ao canto da boca e sentiu inundar a língua com um gosto mais amargo, mais característico da situação do que da própria lágrima.

Rapidamente tirou a mão e limpou o rosto já coberto de um choro libertador que lhe rendeu os olhos vermelhos, agora abertos e sensíveis, ainda mais com a claridade do quarto. Permaneceu ali, deitada, aguardando algum sinal de que lhe batia o coração e existia vida onde ela não achou mais ter.

Deixou-se ser tocada por mãos frias e firmes, a contragosto, mas facilitou o contato por necessidade. Afastou, a pedidos, a camisola leve que escolhera para aquele dia, de seda azul bem clarinho, memorável. Com os olhos cerrados, notou apenas vultos e sombras. Com medo, agarrou o ventre com voracidade e a determinação de um protetor nato, e sentou com dificuldade… o medo passou, o sentimento agora era de leveza, após sentir um pequeno desconforto no antebraço…

Deitou novamente e, fechou os olhos finalmente. Suspirou e confiou no que estava por vir.

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