Sem bagunça, por favor!

Sentei no banco do carro e, como de costume, liguei o rádio após me arrumar para dirigir. Coloquei o cinto, ajeitei o banco – casa com dois motoristas requer ajustes diários – e aumentei o volume. Especialmente hoje o fiz para espantar os pensamentos sobre a noite passada que permaneciam a me ensurdecer. Quem sabe com as músicas as ideias se calariam e a calmaria me acolheria pelo menos enquanto buscava meu caminho, literalmente.

É claro, não podia ser diferente, que meus pensamentos eram sobre nós, eu e você, que na verdade acho que sou mais eu me preocupando e você apenas fazendo o que bem quer…

Lembrei que ainda ontem, fiquei sentada nos degraus da varanda, acompanhando o esconder do sol, a entrada das luzes naturais da noite e o esfriar do dia e do meu próprio sentimento. Até que me convenci de que não viria mais ao meu encontro, pelo menos não hoje. Eu já sabia, mas, esperava outro fim para isso. Há algum tempo, acho que já lhe disse inclusive, um amigo me falou que notava em mim uma esperança platônica em relação aos outros, me aconselhou a não o fazer. Quanto mais esperamos mais nos decepcionamos… Achei que eram apenas palavras de um descompromissado, mais um que eu tinha encontrado. Hoje vejo que foi um dos melhores conselhos que recebi e que não sei coloca-lo em prática ainda.

Ainda com o som do carro ligado, me distanciei da realidade e me recordei da noite anterior. Explicações e desculpas para situações previsíveis já não me satisfazem mais, na verdade, penso serem mais sem sentido do que qualquer coisa imaginável! Como se esquecer que tem um compromisso a honrar, alguém a que se merece dar satisfações, ou apenas que se tem um abraço a dar porque simplesmente sente saudades? Não há compreensão. Entendo que não esquece, apenas não o faz.

Você me tirou um pouco da inocência que eu tinha, com você tive que aprender a ser maliciosa. Despertou o instinto de sobrevivência de uma relação amorosa, caso contrário o coração se parte fácil. Me tirou a doçura dos afagos, o cuidado dos carinhos. Pensava que um beijo era uma demonstração de amor e não obrigação matrimonial; achei que a celebrávamos as datas pelo tempo juntos e não que mascarava a ideia comercial de trocar presentes, também acreditava que a preocupação com seu dia a dia era apenas para saber o que vivera e não uma investigação desconfiada. Percebe que sou mais simples do que pensa? Se eu gostaria de reciprocidade à altura? Mas é claro, quem não o quer? Até nisso me fez acreditar que a egoísta era eu por fazer e querer de volta. Mas só quero de volta o que você mesmo se propôs a dar: divisão de prazeres da vida, momentos de felicidade, cuidado genuíno e amor leve.

Parei, cheguei onde queria. Desliguei o carro e o som se fez mudo, assim como meus pensamentos. É aqui que desce, que lhe deixo, que nos despedimos. Percebe que é você quem vai… sempre! Na volta, sou eu quem espero. Já tentou ficar na expectativa da chegada? Tente, é uma mistura de euforia com medo. Requer coragem. Aí falamos de mim, corajosa sou eu! Por deixar entrar, fazer uma bagunça tremenda e ainda permanecer ali. Acho que deixo por saber que tenho o poder de reajustar as coisas. Acho que está na hora da faxina, afinal, hoje é sexta. Sábado é dia de sair e domingo descansar. Segunda chega com uma expectativa e tudo (de) novo!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crônica para um novo ciclo

Meu controle

Bem viver