Deixe-me ser
Sentada numa poltrona de lugar único, respondia as perguntas de maneira desconfortável. Não só pela obrigação em responder ao demorado e insignificante questionamento, mas porque aquele lugar não me deixava à vontade.
Na verdade não era obrigada a responder, necessariamente; mas a partir do momento em que aceitei a fazer a tal entrevista me comprometi em esclarecer algumas coisas, mesmo que me deixassem entediada… se bem que acho minha vida um tremendo tédio mesmo. Não sei o motivo que leva as pessoas a lerem o que escrevo, não tenho nada a dizer que acrescente… só relato o que vejo, o que sinto, quer coisa mais egoísta que textos meus?!
Enfim, estava ali diante do entrevistador. Confesso que não facilitei, monossilábica! Nem parecia a mesmo que desenhava letras em sequencia num papel e montava extensos textos. A de se lidar comigo assim mesmo, como sou. Para não demonstrar toda essa minha simplicidade baixava o olhar, quem sabe assim não passo um ar de mistério, estranheza até, não faz mal, desde que seja algo interessante.
Meu olhar triste gerou a pergunta sobre meu estado de espírito (como eu já imaginava). O que me fez pensar que as pessoas nos taxam por breves momentos de exposição. ‘Não, não estou triste, apenas cansada. Estou cansada’. Logo suspiro como se colocasse para fora algo guardado e que me pesava o peito. Cansada!
Acendi meu pequeno vício, de tempos. Inclusive em minhas próprias mãos estão as marcas de minha inconsequência… Queimadas. Diferente do que pensei, meus dedos têm mais histórias a contar do que minha cabeça consiga imaginar.
Vamos logo com isso, seu moço! Não, não sou daqui, mas, meu coração é! Não, não me vejo importante apesar de me intitularem como uma escritora e tanto. Nem escritora profissional sou, não quero o título, escrevo quando quero, meu compromisso é comigo mesma. E de novo o egoísmo aparece. Mas convenhamos, quem não o é!? Aliás, escrever quando e como quero é que faz meus textos terem a excelência que tantos dizem. Só escrevo quando estou viva, e há fases em que morro! Aí, morro mesmo.
Sou amadora. E pense na forma mais completa e complexa do termo: amo escrever e escrevo por amor mesmo. Me leiam pensando assim: no sentimento que coloquei nessas linhas.
Pensando assim, que injusto quanto julgamento pela minha escrita. Julgamento ruim! Se não gostou é porque não me entendeu… Sentimentos não são para serem aprovados, julgados… Mas para serem sentidos, vividos. Como o ser humano se completa sentindo apenas a parte boa da vida? Como sei do que gosto se não provo o que não gosto? Que insensatez!
Muitos me taxam de melancólica. Não tenho que explicar mas gosto de o fazer: não sou melancólica. Penso apenas que a tristeza é mais cheia de detalhes, de descrições, de sensações. Ela é mais interessante, assim como o mau humor. Me instiga; de certa forma a melancolia me seduz, como se fosse algo a ser consertado, melhorado. Falar da felicidade é perder tempo, dela não se fala, se aproveita, se vive!
Neste momento meu cigarro acaba, assim como meu pequeno momento de prazer viciante. Desta forma meu olhar volta a emanar meu tédio, suspiro novamente e penso no outro texto que começa a crescer em meu peito. É com essa melancolia que caminho de mãos dadas, e continuo meu caminhar sem olhar a quem me grita: Clarice!
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