Ambiguidade poética
Eu já sabia desse jeito dela e sabe que, pensando bem, foi justamente essa sua maneira de ser que me cativou… Suas peculiaridades me intrigaram, me instigaram e eu simplesmente me deixei levar.
Lidar com essa tempestade calma, com essa fúria pacífica, com esse planejamento desordenado que é a vida dela me deixa entretido. Na verdade mais do que isso, me desperta um interesse irreal quase como se eu tivesse que descobri-la e consertá-la. Isso considerando que quem precisa de conserto não sou eu mesmo.
Não sei se o sentimento era mútuo. Vez ou outra demonstrava que enxergava minha presença, balbuciava poucas palavras gentis ou mesmo desviava o olhar a me ver passar. Para quem conhece sabe que esses são sintomas de ligeiro interesse e, acredite, era melhor me contentar com isso mesmo…
Era assim, ora diferente. Dizia, em seus momentos de maior afeto, que preferia estar sozinha a ficar com uma companhia tão distante quanto eu. Comentário seguido, claro, de uma enorme irritabilidade. No fundo queria apenas que eu me aproximasse dela, que a aconchegasse em mim. Era um duelo constante, um descobrimento sem fim. Acho que mais dentro dela do que em relação a minha companhia.
Ah e se me chamasse de idiota, esse era o auge! Aí sim saberia que a tinha conquistado de vez. Me contentava em decifrá-la, era interessante. Sabe o que mais era interessante, sua tentativa de sempre se mostrar indiferente. Indiferente ao seu passado e ao futuro que eu tinha planejado para nós. Mas eu descobria a mentira que seus lábios contavam à medida que o brilho dos seus olhos reluzia, imensamente, em minha direção.
As botas masculinas e pesadas, as roupas escuras e largas, os cabelos longos e retos tentavam esconder sua delicadeza. De certa forma até o faziam, mas, não para mim, não. Eu via a meiguice em seu rosto entre as expressões aflitivas que se impunha.
Difícil! E é aí que está o valor disso. A dificuldade nos leva a caminhos melhores, a pessoas que valham a pena, a corações mais receptivos do que pensamos. Esta vale a pena, ô se vale.
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