Só de passagem

As pétalas delicadas, branquinhas, aguardavam meu carinho matinal na janela já aberta do quarto. A brisa que pela manhã chegava mansa balançava os frágeis galhos e liberava o perfume sutil da pequena flor. A presença do vasinho ali era prova de que ele já me visitara. Era assim: rápido e imperceptível. Vinha apenas para me ver dormir as poucas horas que restavam da manhã, aparecia quando os raios do sol já me despertavam o profundo descansar.

Mesmo sem vê-lo, só por notar o pequeno mimo deixado, me sentia completa, segura. Como era carinhoso o cuidado dele! Todos os dias as mesmas pétalas delicadas e branquinhas. Dizia que pareciam comigo, pele alva, cheiro de flor.

Sinto falta de quando ele vinha por mais tempo, não apenas de passagem. Sua estadia demorava um pouco mais e se apresentava mais intensa. Quando vinha, me despertava e, juntos esperávamos acordados o amanhecer. Dizia que me ver à luz do dia fazia mais jus à minha beleza, que a via plena, por isso as visitas durante a manhã.

Há algum tempo ele parou de ficar. Apenas passa… Ainda me pergunto o motivo disso. Tentei permanecer acordada mas, não resisti e adormeci sem notar a sua chegada. Penso que algo em seu sentimento mudou, as noites tornaram-se sua moradia. A escuridão lhe desperta agora uma sensatez obscura. Tento descobrir suas feições novamente, mas, insiste em se manter distante, vem apenas de deixar a minha delicada flor. No fundo acho que isso é a única ligação que o segura como ser…

Mantém a flor como símbolo; lembrança do sentimento que um dia teve por nós. Acho até que esse compromisso cuidadoso é a única coisa que o liga a algo real. Espero que um dia volte e permaneça. Continuo a esperar a sua vinda, sempre com a imagem do que um dia fomos, e com a esperança de que me entregue e não a deixe na janela …

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