João 'Perigoso'
Ah, há muito que se contar, as histórias são diversas sobre essa ‘figurinha’. Na verdade, sobre o casal, mas, Dona Vera com certeza é um capítulo à parte.
Vô Jório antigamente era conhecido como João ‘Perigoso’, fama essa que quase impediu o casamento de vovó. Naqueles tempos moça de família não podia se enrabichar por rapaz ‘soltinho’…
Tanto era danado, João ‘Perigoso’ ficou conhecido por um episódio dentro do cinema da cidade. Ele, acompanhado de um amigo (comparsa), assistiam a um filme que retratava a vida de Maria Antonieta, numa das cenas, a dita cuja parava, olhava para trás e seguia novamente. Joãozinho, que não canso de chamar de peralta, terminou sua sessão e pediu ao amigo que continuasse para assistir a outra, com o mesmo filme. Chegada a cena descrita, apareceu Maria Antonieta, João gritou: ‘Maria Antonieta!’, ela (como ele já sabia) olhou para trás, ele continuou sua participação: ‘Não é nada não, pode ir’ e ela seguiu. Essa meninice arrancou risadas de quem estava no cinema e, claro, foi assunto na cidade.
Uma das características do moço era ser petulante o moço! Nítido isso pelo episódio em que profetizou seu destino quando apontou Verinha e disse que seria com aquela moça que se casaria. Aconteceu nas terras mineiras, de onde ambos vieram. Dona Vera descia de um ônibus, vinha de outra cidade para visitar uma tia. Joãozinho, sentado ‘malandramente’ com as pernas na cadeira que estava ao contrário, avistou o balançar das cadeiras proeminentes e os olhinhos por detrás das lentes da jovem Vera, apaixonou-se perdidamente, ainda mais… dizem as más línguas que o moço já havia sondado a bela em outras pracinhas…
A investida não ficou por aí, passava em frente a casa dela que ficava na janela a olhar pro tempo, era Joãozinho passar que arrancava suspiros de Verinha que não admitia que isso realmente acontecia.
Ah, e o baile! Também circulava o boato de que João ‘Perigoso’ era, além disso, um pé-de-valsa tremendo! E o danado não provou isso quando teve o grande baile da pequena cidade? Foi! Nessa noite a bela Vera arranjou algumas inimizades. Joãozinho era par cobiçado e, naquela noite disse que só dançaria se Verinha o fizesse com ele. Moça recatada, pra lá de durona, fez seu jogo duro e não deu o prazer à ele, muito menos à elas que ficavam apenas a olhar o jovem valsador sem dar o ‘ar da dança’.
Mas, esse ‘chove não molha’ durou pouco. Casaram, afinal. Joãozinho continuou suas peraltices. Como presente de casamento, Verinha e João ganharam um enorme relógio de madeira, horizontal, bem trabalhado, elegante… Não é que, numa das visitas dela à mãe, João ‘Perigoso’ deu fim do bendito presente em troca de um anel fajuto, e o pior, para ele (ainda se fosse para amada)! Pois sim, o fez!
Sem contar os dias que sumia, sumia por dias! Vera, muito assustada, avisou aos irmãos do marido que o localizaram numa cidade próxima, à beira do rio, pescando (como gostava), com a desculpe de que simplesmente esqueceu de avisar, pode?
E quando, fazendo fita de goleiro, acelerou o coração dos companheiros e torcida deixando a bola aos pés do atacante até o último momento. Claro que, depois, no vestiário, ele dizia: “Claro que eu sabia o que estava fazendo, era só marra!”. Vai saber…
Esse foi danado! Deixava Verinha em apuros quando aparecia, sem avisar, com os amigos de farra, para jantar em casa. Lá ía ela passar algumas horas na cozinha a fazer o que comer ao querido marido.
E quantas e quantas vezes ela arrumou a mesa do café e, à espera dele, faz um cafezinho preto fresquinho; quando ela percebe ele já engoliu o pão a seco mesmo, pegou fatias desarrumadas de presunto e sai, desligado, sem nem despedir-se…
João ‘Perigoso’ continua ‘perigoso’, só que hoje é conhecido como João ‘Biruta’. Alegre, peralta, carinhoso e com uma vontade imensa de ser o centro das atenções continua suas tramas com Verinha… só que de forma mais calma. Também, após tantos anos de casamento.
Mas como é engraçado. Mesmo com todas essas artimanhas do, hoje, vovô Biruta, o sorriso de Verinha não engana ninguém: como foi certeira sua escolha. Mesmo com ele escondendo o controle remoto só para ele, ou limpando a boca suja de molho de macarrão na toalha da mesa, ou quando mastigava ‘desaducadamente’ com a boca aberta na frente dos netos, D. Vera sabe da escolha que fez.
Prova desse amor todo é o ‘parzinho’ de xícaras em cima do micro-ondas, que tem impressas no corpo do copo uma foto do casal dando um selinho carinhoso. E prova maior ainda é quando ele pega na mãozinha gordinha dela e lhe dá um beijo estalado. Ela sorri, em agradecimento aos felizes anos que passaram juntos…
Comentários
Postar um comentário