Este foi o dia em que ela descobriu outros sentidos
Enquanto ia e vinha no pequeno balanço de madeira no quintal, observou seus cabelos ao vento no vai e vem que fazia naquele brinquedo. Ora lhe cobriam a face, ora lhe davam liberdade suficiente para ver o sol que, naquela manhã, estava ainda manso.
Também se divertia com as pontinhas do sapato que esbarravam na terra ainda molhada do sereno da noite passada. Quando o balanço descia, os pezinhos eram arrastados no chão e isso lhe roubava sorrisos marotos, pequenos, disfarçados.
Sozinha ali se deixou apenas balançar. O corpo solto era lançado para frente e para trás conforme o ritmo e velocidade do balanço. Assim ficou por algum tempo. Parou quando sentiu-se enjoada e, a certo modo e também. Novidade são as primeiras balançadas, tiram-lhe suspiros, frios na barriga… já tinha passado à essa altura.
Levantou a cabeça devagarinho, cabelos nos olhos ainda. Delicadamente tirou os fios para que enxergasse novamente o sol. Mesmo tão cuidadosa, caiu espantada! Não entendia o que via. Tudo estava de pernas para o ar. Sim, de cabeça para baixo… Árvores, pedras, até os passarinhos que voavam ao céu que agora estava aos seus pés.
Notou que as rendinhas da barra do vestido estavam ao alcance dos olhos: também estava de pernas pro ar. Freneticamente passou as mãozinhas aos olhos a fim de acordar desta bobagem de sonho, e nada!
‘Será que adormeci com o balançar do brinquedo?’ Esqueceu-se que nesse meio tempo, algo novo aconteceu, e sorriu sem nem saber o motivo exatamente. Enquanto deixava-se apenas levar, alguém a guiava, tirando o vai e vem natural daquela brincadeira e alterando sua noção da realidade.
Pensou e, seus cabelos continuavam lisos, longos, seus olhos ainda castanhos e suas mãozinhas pequenas, então, o que na verdade mudou? Apenas o sentimento que vinha dentro do peito e sua visão de tudo o que lhe rondava. Mas, enquanto se via tentando entender tudo isso, percebeu aquele caminhar em sua direção. Mesmo de cabeça para baixo, viam do mesmo ângulo… por um tempo ficaram assim, depois ela lhe apresentou as coisas como elas eram (para ela). Assim, deram-se as mãos e, ‘ora iam assim, ora iam assado’.
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