Ah, a cuiabana!
Ninguém resistia ao rebolado dela. Moça bonita, despretensiosa e devidamente comprometida. O que não a impedia de ser cobiçada pelos marmanjos, de todas as idades inclusive; desde os pivetes aos mais maduros.
Ah, ajudava muito o clima da cidade. Quente, na verdade, conhecida como cidade mais quente de país, o clima de Cuiabá ajudava os observadores das lindas curvas que ela exibia. Com vestidos mais ‘frescos’ sempre deixava à mostra um pouquinho a mais do colo, ou mesmo as estonteantes pernas ou ainda as raras pintas que davam charme às costas da moça.
Esta poderia muito bem fazer parte da lista de beldades descritas por Jorge Amado, porém, o escritor não conseguiria nem de perto fazer jus à beleza dela. O melhor de tudo é que a morena não era apenas bela, era ingenuamente sensual. E essa ingenuidade potencializa tudo!
Enfim, era quinta, dia de feira na antiga praça no centro cuiabano. Mesmo tão cedo, o calor há muito já tirava o sono dela. Acordada na cama esperava as horas passarem para acordar o amado, claro, com seus desejos matutinos rotineiros. Ele apenas a afastou, ainda com preguiça. Percebendo a falta de vontade alheia, foi-se à feira comprar legumes frescos para i jantar, à gosto dele, como sempre.
Nem o mais simples vestido acompanhado de chinelos de dedo deixava a bela afastada dos olhares e comentários daqueles que queriam mais que do observar. Os cabelos desalinhados num rabo de cavalo mal feito tirava a nuca refrescar com a rara brisa da cidade, em contrapartida, os suspiros não eram tão raros.
Ela era tão comprometida com o sentimento por ele que nem notava as possíveis tentações que a sua beleza poderia trazer, mas, o pior de tudo é que ele também não! Já estavam juntos há mais tempo do que ele previa. Começaram um namoro sem muito tempero, continuaram sem muitos planos e permanecem sem muita vontade. Na verdade ele, ela era extremamente devota.
Mal eles sabiam que aquela manhã mudaria ambas as concepções. Voltando das compras, foi direto ao quarto apurar o amado e despedir-se já que estava atrasado para a labuta do dia. Decepcionou-se quando notou que ele já havia partido sem fazer questão do beijo que ela gostava de dar-lhe. Cabisbaixa pôs-se a guardar o que acabara de comprar. ‘Ah, esqueci a bolsinha de níqueis lá.’ Voltou.
Coincidentemente as duas maritacas conhecidas da região, encostavam os cotovelos nos parapeitos das enormes janelas dos antigos casarões cuiabanos com as bocas mais abertas do que fechadas. Numa dessas maldades ditas pelas velhotas, a morena escutou que há tempos seu marido achara uma amiga, uma confidente, e que ela perdeu seus dias de dona da casa. Sem acreditar muito, pôs sebo nas canelas e chegou em casa rapidamente.
Sentada sem modos no sofá, chorou, apenas chorou. Mesmo com o rosto desfigurado pelo choro sofrido, a danada não conseguia ficar feia. Ficou ali por algum tempo e pensou no sentimento que ficou abalado. Sempre disse que muita coisa passaria mas, traição, não!
Chegou para o almoço e encontrou as malas recheadas de tranqueiras que, ao ver de perto, não eram suas. Era ela indo embora, e comprovou que sua decisão estava correta quando o viu colocar uma das bolsas na calçada do lado de fora. ‘Vai sentir minha falta’. Pensou, queria ter dito, mas só pensou. Mal ela sabia que mulher bonita, bem apessoada, inteligente e dedicada não fica muito tempo triste por amor partido. E assim foi, não demorou a cozinhar para outro, e este fazia questão da comida caseira e só da feita por ela.
Era quinta, dia de feira. Lá ia ela com o vestido florido fresquinho naquele dia quente, mais um dia quente da cidade cuiabana. A cada passo ritmado dela, os olhares acompanhavam, atentos. E entre eles, daquele que um dia a via de perto, pertinho.
“É, essa foi minha. Foi… que falta”.
“A Mulher que perdoa a traição deixa de conhecer um verdadeiro amor. Pois continua com a pessoa errada, sem se permitir conhecer a certa.” (Autor incerto)
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